Podemos descrever a Economia Solidária como um conjunto de práticas e experimentos, no campo socioprodutivo, que tem como eixo de convergência ou preceito elementar formar organizações horizontais, do ponto de vista da propriedade e da gestão, logo, fundamentadas na autogestão e no trabalho associado, que por sua vez, são elementos orientados pelos valores da solidariedade, cooperação e sustentabilidade ampla.
Devido a estas características explícitas, deriva-se a perspectiva de termos aqui também um projeto de sociabilidade, a partir de uma forma diferente de se organizar a produção e a distribuição, mas não uma forma qualquer, ou seja, trata-se de uma forma que intenta promover o bem-viver.
Por conseguinte, além de já representar um conjunto considerável de pessoas, empreendimentos, ideias, logo, de um autêntico movimento emancipatório, a sua proposta de constituição, que em si é desafiadora, uma vez que visa modificar fundamentos profundos do nosso atual desenvolvimento (principalmente a exploração econômica e a competição predatória pelo lucro), também é inerentemente um movimento que visa uma nova estratégia de desenvolvimento, em sentido amplo ou que seja profundamente sustentável, logo, apresentando uma forte confluência com praticamente todos os ODS, ainda que tenha uma ação mais direta em alguns do que outros, mas que de uma forma ou de outra contribui com o seu conjunto, a partir de uma visão igualmente integradora de desenvolvimento coletivamente discutido, planejado e executado.
Neste contexto de integração sistêmica, apreende-se a sustentabilidade ampla como o contínuo harmônico e virtuoso entre as esferas do público e do privado, mas tendo a primazia da propriedade social dos meios de produção, bem como a reestruturação das dinâmicas institucionais, culturais, políticas, tecnológicas e organizacionais, que resulte na integração cooperativa e colaborativa entre os vetores da necessária preservação ambiental e resiliência/ sustentabilidade dos seus ecossistemas, da viabilidade e eficiência produtiva econômica, e da inclusão justa, solidária e emancipatória das pessoas, portanto, de uma convivência social fraterna e centrada no bem estar.
Para isso, tal estratégia de desenvolvimento estaria centrada em novas formas horizontais ou sistêmicas de organização socioprodutiva.
Neste horizonte de orquestrar um conjunto sinérgico de melhorias e mudanças, a Economia Solidária se insere, de forma vigorosa, no compromisso histórico de se contribuir expressivamente com os ODS para a transformação do mundo, de forma direta com os ODS 8, 9 e 12 e de forma indireta com os ODS 1, 2, 3, 10, 11, 15 e 17.
Todos esses objetivos, na concepção de solidariedade socioprodutiva e sistêmica que o projeto de Economia Solidária reivindica, podem e devem estar não só integrados, mas também articulados como um sendo o ponto de reforço ou requisito do outro.
Edi Augusto Benini Professor da Universidade Federal do Tocantins - Núcleo de Economia Solidária (NESol/UFT). Associado Efetivo e Fundador da Associação de Apoio a Construção de um Sistema Orgânico do Trabalho Associado (Via SOT).
* Texto publicado originalmente no Informativo Mensal da Rede ODS Brasil - Edição 2, Fevereiro de 2016.